quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Não é um país sério...
Não é um país sério...
Marcos Bayer
Pouco importa se a frase é do General Charles De Gaulle ou do Embaixador do Brasil em Paris, Carlos Alves de Souza Filho, por ocasião da Guerra da Lagosta, em 1962, quando a França e o Brasil discutiam se as lagostas que passavam pelo litoral de Pernambuco, andavam ou nadavam.
Caso “nadassem” eram “internacionais”. Se “andassem” eram brasileiras, pois o solo submarino pertencia ao Brasil.
O fato é que de lá para cá temos visto um país pouco sério nos seus caminhos políticos.
Veio o golpe militar de 1964 com o argumento de que o Brasil não podia virar para o lado do comunismo.
Os generais impuseram dois partidos políticos: ARENA e MDB. A Aliança Renovadora Nacional apoiava o regime. O Movimento Democrático Brasileiro podia fazer oposição. Era uma “democracia” militar.
Com o passar dos anos, em 1968, a situação ficou mais complexa. Liberdades civis suprimidas com censura geral, mandatos políticos cassados e planejamento orçamentário rigoroso.
O “bolo” econômico deveria crescer para depois ser dividido entre a população, ensinava Delfim Netto. Havia dinheiro disponível nas bancas de Londres e Nova York provenientes dos “petrodólares” do Golfo Arábico.
Os subdesenvolvidos eram estimulados à contratação de empréstimos com taxas de 17% até 21% ao ano. Na Europa as taxas giravam em torno de 6% a.a. Olha a maravilha do “spread”.
Construiu-se muita coisa, grandes obras, estradas federais, industrialização nacional e um pouco de tortura e corrupção, nas medidas permitidas por alguns generais.
O MDB criava corpo, gritava e sacudia a nação rumo à democracia. Abertura política, anistia, eleições diretas em todos os níveis.
A Arena respondia com sublegendas, senadores biônicos e colégio eleitoral.
E assim fomos, até que em 1988 proclamamos uma Constituição e em 1989 elegemos um presidente civil pelo voto secreto e direto.
No úbere do MDB estavam os comunistas, socialistas, democratas, trabalhistas, anarquistas e todos os matizes que se possa imaginar.
O MDB abrigava a todos. Com o tempo foi se depurando. Saíram tendências ideológicas para a construção de novos partidos.
Surgiu o PT – Partido dos Trabalhadores. Nasceu o PSDB, a parte boa do PMDB. Nasceu o PSOL, a parte ética do PT.
Da Arena, fizeram-se PDS, PFL, DEM e até o PSD.
Surgiram outros. Quase 30 partidos políticos, hoje registrados e em funcionamento.
Depois das tentativas de vários deles em governos estaduais, ou no federal, finalmente o PT, na quarta eleição, em 2002, chega à Presidência.
Lula recebe seu primeiro diploma na vida: o de Presidente do Brasil.
Inegavelmente consegue impor avanços na economia, na produção, na educação, no consumo e na oferta de crédito.
Parecia que vinha bem, até que o Presidente Mujica, do vizinho Uruguay, revela em seu livro que Lula admitia lidar com coisas imorais e chantagens para poder governar o Brasil.
Aí veio o Mensalão, o Petrolão e outros casos ainda submersos, conectados a vários partidos políticos.
Mas, o pior é ter que assistir o PT desconstruir, no Congresso Nacional, todo avanço legal que conseguiu nos últimos tempos, especialmente no que se refere aos trabalhadores.
O ajuste fiscal pretendido pelo governo da Dilma pode ser sintetizado assim:
O PIB do Brasil em 2014 foi de R$ 5,5 trilhões de reais. Foi quanto a nação produziu, a soma dos esforços de todos os brasileiros. Gastamos com o pagamento dos juros da dívida pública (o valor que o Tesouro paga aos bancos) R$ 250 bilhões de reais, cinco por cento do PIB. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quer economizar R$ 66 bilhões de reais no tal do ajuste fiscal, basicamente nas costas do trabalhador. Isto é 1/4 do valor do pagamento dos juros anuais.
Pergunta se alguém vai mexer na receita dos bancos...
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
É na arena política...
É na arena política...
Marcos Bayer
Nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
haverá o embate político. E neles acontecerá a discussão política do
“impeachment”.
O “impeachment” é uma instituição norte – americana.
Foi concebido pela democracia presidencialista mais
sólida da História.
Richard Nixon sofreu o “impeachment” no Congresso dos
Estados Unidos da America porque mandou espionar a sede do Partido Democrata no
Edifício Watergate... Aliás, renunciou antes da imposição do “impeachment”.
Não está escrito na Constituição dos Estados Unidos da
America que é crime espionar a sede de partidos políticos. Não, não está...
Mas, um presidente após o juramento de governar
respeitando as leis e a constituição não pode mentir sobre coisa pública...
Bastou a mentira para que os dois jornalistas do
Washington Post levassem o caso Watergate às ruas e deu no que deu.
Os brilhantes jornalistas Bob Woodward and Carl
Bernstein foram os heróis do caso.
No Brasil, agora, nossos heróis são o Juiz Moro e os
promotores federais de Curitiba que, junto com a Polícia Federal, iniciaram a
Operação Lava a Jato, palco do início desta grande tragédia nacional.
O Brasil está sendo exposto pelas suas tripas ao
mundo.
Vísceras apodrecidas pelas práticas sorrateiras “daszelites”
com ampliação do pessoal “de esquerda” desta nação espoliada desde sempre.
É um dos momentos mais salutares da jovem democracia
brasileira. Senão for o maior.
Heróis bandidos fazem o trabalho “sujo” sobre a
sujeira de outros heróis bandidos.
Pena que o nosso Senado não é mais palco de eloqüentes
homens de Estado. Agora é composto por homens das estatais.
O Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição,
cumpriu seu papel. Foi provocado e decidiu sobre um roteiro atualizado do
processo de impedimento presidencial.
Não vamos entrar nas minudências dos votos de seus
membros.
A arena agora é política. E a população usando as
redes sociais e os aplicativos tecnológicos, pode sair às ruas e dizer o que
quer.
A classe política, ainda que contaminada pelas
gentilezas pecuniárias dos recursos financeiros do Tesouro Nacional, terá que
ouvir e se subordinar ao grito popular.
O país avança sobre o Congresso Nacional.
Ainda não somos e não seremos uma “Venezuela”.
Somos maiores do que Veneza. Somos a Roma tropical.
Nosso amadurecimento político se consolida por estas
duas experiências recentes: “mensaleiros” e “petroleiros”.
A República está podre. Mas, ela é maior do que a
podridão.
O povo brasileiro sabe e saberá encaminhar a votação
que ocorrerá no Senado Federal.
E sairemos melhores e mais democratas desta nova
experiência institucional.
Podem apostar em baixo da figueira da Praça XV de
Novembro, na Capital.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
CARTA AO SENHOR FACHIN
Carta ao
senhor Fachin
Marcos Bayer
Bom dia senhor Fachin... Saiba que na sexta-feira todo
mundo é baiano aqui no Brasil.
Como foi Rui Barbosa, Glauber Rocha e Octávio
Mangabeira...
Sabe o senhor que o “impeachment” é uma instituição
norte – americana.
Richard Nixon sofreu o “impeachment” no Congresso dos
Estados Unidos da America porque mandou espionar a sede do Partido Democrata no
Edifício Watergate... Aliás, renunciou antes da imposição do “impeachment”.
Não está escrito na Constituição dos Estados Unidos da
America que é crime espionar a sede de partidos políticos. Não, não está...
Mas, um presidente após o juramento de governar
respeitando as leis e a constituição não pode mentir sobre coisa pública...
Bastou a mentira para que os dois jornalistas do
Washington Post levassem o caso Watergate às ruas e deu no que deu.
Bob Woodward and Carl Bernstein foram os heróis
do caso. Brilhantes jornalistas.
Como tem sido nosso Juiz Moro e os promotores federais
de Curitiba.
Senhor Fachin não venha com balelas e artimanhas
Felipinas, Manoelinas ou Afonsinas.
O “impeachment” é um processo eminentemente político.
Eminentemente político, senhor Fachin.
Eu não vou falar das acusações que pesam sobre membros
de um partido que governa o Brasil nos últimos 13 anos...
Não vou escrever sobre mentiras, desvios, cinismos ou
ilegalidades...
Seria bobagem repetir o que a imprensa “golpista” vem
mostrando nos tempos recentes.
Senhor Fachin, saiba que sua postura magistrada não
pode se confundir com sua atuação política.
Deixe para os políticos “golpistas” a tarefa de acabar
com o “golpe”...
Atenha-se a Constituição da República Federativa do
Brasil.
Basta a Constituição. A Lei maior.
É o que compete ao Supremo Tribunal Federal: Impor ao
povo o respeito à Constituição que em seu nome foi escrita.
Ouça sua professora...
Em, 11 de Dezembro de 2015.
https://youtu.be/u7kjH0PcE5A
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
A canoa do Tasso...
A canoa do Tasso...
Meu primeiro
presente neste Natal de 2015.
A canoa do Tasso Claudio Scherer...
Que singra todos os mares...
Desde o sul até Antares...
A estrela dama de vermelho que passeia pelos ares...
Passa por Mataró ou Benicassim e outros lugares...
Leve, rígida e reta como garapuvus verdes e utópicos sonares...
Vai canoa navegando procurando novos olhares...
Bombordo e Boreste desde a Escola de Sagres...
Aporta em todos os lugares...
Lança tua rede em todos os avatares.
A canoa do Tasso Claudio Scherer...
Que singra todos os mares...
Desde o sul até Antares...
A estrela dama de vermelho que passeia pelos ares...
Passa por Mataró ou Benicassim e outros lugares...
Leve, rígida e reta como garapuvus verdes e utópicos sonares...
Vai canoa navegando procurando novos olhares...
Bombordo e Boreste desde a Escola de Sagres...
Aporta em todos os lugares...
Lança tua rede em todos os avatares.
Em, 05 de
dezembro de 2015.
Poemita para Dalí en Costa Brava...
Poemita para Dalí en Costa
Brava
Una vida de
mesclas y tiempos y sentidos y aires y soles y águas y risas y delícias y
noches y mañanas y tardes y amores...
04.12.2015
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
Os babacas
de Paris (*)
Marcos Bayer
Reunidos mais uma vez na Conferência da ONU para o Clima, em Paris, eles montam um circo cada vez mais pirotécnico. Roma e Nero ficam continuadamente diminuídos.
Começou com o Clube de Roma, em 1968, que resultou no
“Limits to Growth”. Depois no dia 5 de Junho de 1972 em Estocolmo, na Suécia.
Então, no Rio de Janeiro, a Eco-92, o último gesto do eloqüente Fernando Collor
antes da queda mortal.
E assim tem sido...
Já no começo dos anos 1980, na Califórnia, se estudava
Ecology and Politics of Scarcity do
William Ophuls. Todo o meio acadêmico alertava para as descompensações
ambientais.
E a classe política nada vezes nada. Alguns movimentos
dos “greens” na Alemanha e que aqui
no Brasil, afora exceções honestas e bem intencionadas, virou picaretagem da
braba. Inclusive em Santa Catarina.
Órgãos de controle ambiental, como a FATMA, concebida
por Alcides Abreu e criada pelo Konder Reis, em 1976, acabaram virando toca de
hienas que a “Operação Moeda Verde” demonstrou.
Para não delirar no cenário mundial, vamos pegar as
praias da Ilha que foram detonadas aos poucos sem o cuidado primário de
quaisquer dos prefeitos desta cidade. Foram acabando com nosso maior
patrimônio.
Ninguém vem para Florianópolis para ver os prédios da
Beira-Mar denominados em francês. Tais quais, “Versailles” ou “ Maison de La
Marie”.
As pessoas que aqui aportam querem saber das águas
limpas, da tainha com ova, dos ilhéus e de certo charme que existia na
arquitetura derrubada no centro da vila.
Como fazem em Curaçao, Martinica, Portofino ou
Marguerita.
Mas, lá estão, neste circo mágico do ambientalismo,
todos bradando por um mundo mais limpo e melhor, na bela Paris.
One Human
Family é o que propõem todos. Do
Barack Obama ao homem de cocar sobre os ombros do terno com gravata.
Nos últimos 50 anos governantes em todo o planeta
promoveram uma arruaça total, em Tijucas também, resultando na morte de baías,
rios e lagoas.
Tudo em nome de um progresso que concentrou renda, e
eles mesmos provam isto, aumentou a desgraça na África e a guerra no Oriente
Médio pelo domínio do petróleo.
Insanos, todos insanos.
Um milhão de dólares já não contenta nenhum deles.
Aqui no Brasil querem vários milhões e roubam dos cofres públicos porque não
têm talento para nada, a não ser roubar.
Olhem para a cara deles. Olhem suas expressões
faciais. Olhem como são mórbidos...
E só bebem whiskey para poder amortizar a dor e
a vergonha de roubar.
Os babacas de Paris
Os babacas
de Paris
Marcos Bayer
Reunidos mais uma vez na Conferência da ONU para o
Clima, em Paris, eles montam um circo cada vez mais pirotécnico. Roma e Nero
ficam continuadamente diminuídos.
Começou com o Clube de Roma, em 1968, que resultou no
“Limits to Growth”. Depois no dia 5 de Junho de 1972 em Estocolmo, na Suécia.
Então, no Rio de Janeiro, a Eco-92, o último gesto do eloqüente Fernando Collor
antes da queda mortal.
E assim tem sido...
Já no começo dos anos 1980, na Califórnia, se estudava
Ecology and Politics of Scarcity do
William Ophuls. Todo o meio acadêmico alertava para as descompensações
ambientais.
E a classe política nada vezes nada. Alguns movimentos
dos “greens” na Alemanha e que aqui
no Brasil, afora exceções honestas e bem intencionadas, virou picaretagem da
braba. Inclusive em Santa Catarina.
Órgãos de controle ambiental, como a FATMA, concebida
por Alcides Abreu e criada pelo Konder Reis, em 1976, acabaram virando toca de
hienas que a “Operação Moeda Verde” demonstrou.
Para não delirar no cenário mundial, vamos pegar as
praias da Ilha que foram detonadas aos poucos sem o cuidado primário de
quaisquer dos prefeitos desta cidade. Foram acabando com nosso maior
patrimônio.
Ninguém vem para Florianópolis para ver os prédios da
Beira-Mar denominados em francês. Tais quais, “Versailles” ou “ Maison de La
Marie”.
As pessoas que aqui aportam querem saber das águas
limpas, da tainha com ova, dos ilhéus e de certo charme que existia na
arquitetura derrubada no centro da vila.
Como fazem em Curaçao, Martinica, Portofino ou
Marguerita.
Mas, lá estão, neste circo mágico do ambientalismo,
todos bradando por um mundo mais limpo e melhor, na bela Paris.
One Human
Family é o que propõem todos. Do
Barack Obama ao homem de cocar sobre os ombros do terno com gravata.
Nos últimos 50 anos governantes em todo o planeta
promoveram uma arruaça total, em Tijucas também, resultando na morte de baías,
rios e lagoas.
Tudo em nome de um progresso que concentrou renda, e
eles mesmos provam isto, aumentou a desgraça na África e a guerra no Oriente
Médio pelo domínio do petróleo.
Insanos, todos insanos.
Um milhão de dólares já não contenta nenhum deles.
Aqui no Brasil querem vários milhões e roubam dos cofres públicos porque não
têm talento para nada, a não ser roubar.
Olhem para a cara deles. Olhem suas expressões
faciais. Olhem como são mórbidos...
E só bebem whiskey para poder amortizar a dor e
a vergonha de roubar.
Para ouvir: https://youtu.be/3nxjcYhiWjY
terça-feira, 24 de novembro de 2015
Erramos... desculpem, roubamos...
Erramos...
desculpem, roubamos...
Marcos Bayer
A prisão de mais um, desta vez o pecuarista Bumlai, na
Operação Lava a Jato, vai revirando as tripas do Brasil.
O ex-presidente Lula declarou em recente entrevista
para Roberto D’Avila, em tom de pergunta, o seguinte: Então o dinheiro que o PSDB pega na Petrobrás é o limpo, e o dinheiro
do PT, no outro cofre, é o sujo?
Com esta pergunta/afirmação fica expressa não só a
confissão como também o reconhecimento de que todos os partidos políticos vão
buscar dinheiros nas empresas públicas para suas campanhas eleitorais.
Da mesma forma que a CELESC e CASAN e o BESC, faziam o
papel de “estruturadores” de campanhas políticas. Ainda fazem...
Na Roma antiga, há uma citação de Túlio Cícero, sobre
o financiamento das campanhas militares... E da gratidão aos empreiteiros
financiadores.
É urgente regulamentar a matéria... Ainda que seja
pelas mãos do STF.
É por isto que temos governos mais corruptos e outros
menos. Em todos os níveis... Ou mais caros e mais baratos, como refere um
político catarinense.
Da Ave de Rapina, passando pela Monreal/Celesc até a
Petrobrás.
A população brasileira está aprendendo muito com a sua
classe política.
O exemplo vem de cima... Claro que vem de cima. Dizer
que a política reflete a sociedade é uma sacanagem para justificar outras.
O que o PT fez, ao prometer o Nirvana ao povo
brasileiro, foi um lamentável engano, desculpe, um roubo.
Agora, por lógica de movimento pendular, a tendência
será votar em quem representar o anti-PT.
Assim demonstram as pesquisas de opinião.
E, mais uma vez, muito ladrão aproveita para lavar
suas condutas.
Mas, no fundo, estamos aprendendo a praticar a
democracia. Ainda que sob uma fachada de “cleptocracia tropical”.
Ou como disse o Gustavo Franco recentemente, na
Roda-Viva da TV Cultura: Existem vários capitalismos... Inclusive o capitalismo
de quadrilhas...
E o Juiz Moro que mostre ao Brasil que ainda é
possível existir Juízes como os de Berlin...
Do Cangablog
http://cangarubim.blogspot.com.br/search?q=Leal+Roub%C3%A3o
http://cangarubim.blogspot.com.br/search?q=Leal+Roub%C3%A3o
domingo, 22 de novembro de 2015
En rodelitas, señora...
En rodelitas, senõra...
Aproximava-se o verão e os argentinos começavam a chegar à Ilha
de Santa Catarina. Era a década de oitenta do século XX, o câmbio era favorável
aos vizinhos do Rio da Prata e, por isto, eles inundavam nossa cidade.
Duas argentinas de meia idade, muito bem falantes e curiosas
chegaram de táxi ao Oliveira, o mais tradicional restaurante da Lagoa da
Conceição.
Chamaram pelo garçom, e, imediatamente, foi designado o Ademir,
por sua grande capacidade de compreensão de vários idiomas.
Solicitaram a ele o cardápio, leram, pensaram e após um breve
olhar, perguntou uma delas: señor, por favor, como son las lulas à dore?
Ademir não se fez de rogado. Imediatamente largou os outros
cardápios que estavam sob sua axila, colocando-os sobre a mesa, e utilizando-se
das duas mãos, juntou a ponta do dedo indicador à ponta do polegar, formando aquela
famosa circunferência já conhecida de todos os brasileiros. Com o indicador da
outra mão girava sobre a circunferência recém construída, dizendo:
En rodelitas senõra, en
rodelitas...
(Da
convivencia com o pessoal do Oliveira na Lagoa da Conceição)
No Restaurante Oliveira, na Lagoa...
Uma
família de São Paulo e o Piá
Chegaram
ao Oliveira três caminhonetes importadas, placas de São Paulo, com
aproximadamente 13 pessoas. Uma família em viagem de férias de verão.
Quando
o Piá, um dos garçons que mais entende de futebol em Santa Catarina, viu aquele
pessoal endinheirado, correu para atender a grande mesa.
O
mais velho deles, talvez o avô, perguntou: Por favor, o que você sugere?
Então
o Piá, pensando na gorjeta, respondeu: O ideal é um rodízio de frutos do mar...
Explicou
então que era composto de porções variadas de camarões, siri, ostras, mariscos
e peixes, todas acompanhadas de pirão, arroz e saladas.
Eles
concordaram, pediram cerveja gelada e alguns refrigerantes.
Após
experimentarem de tudo, chamaram novamente o Piá, e disseram: Há mais alguma
especiaria?
O
Piá, muito esperto, respondeu que iria verificar. Foi até a cozinha e perguntou
para a Marleci, a cozinheira: Tem mais alguma coisa que a gente possa servir
para aqueles paulistas?
Ela
respondeu: Olha, tem ali no canto uns dois baldes cheios de “manjuva”
que o Célio pediu para separar a fim de usar como isca na pescaria.
O
Piá, prontamente, resolveu: Então, frita agora...
Foram
então servidas quatro travessas de “manjuvinha” frita e mais cerveja
gelada.
Eles
comeram, acharam uma delícia, pediram mais duas travessas, e finalmente, a
conta.
Ao
pagá-la, um dos comensais exclamou: Nós já tínhamos experimentado tudo isto em
vários lugares do mundo. Mas, esta última especiaria frita, foi pela primeira
vez e é uma delícia...
Como
é que vocês a chamam?
O
Piá então respondeu: Olha só: Chama, nós “chamemo” de “cagão”...
Pois
ela dá tanta, dá tanta, que chega a dá nojo...
Mas,
o nome mesmo é Manjuva...
Por Marcos Bayer.
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
Hi Fi (a bebida)
o Portátil e o Fai Rai...
O nome é inspirado no nome do programa "Crush em Hi-Fi" exibido no Brasil no início dos anos 60. "Crush" é o nome de um refrigerante de laranja, patrocinador do programa. "Hi-Fi" é o nome de uma tecnologia (abreviatura da expressão em inglês "High Fidelity", alta fidelidade) recém-criada na época, que tentava aproximar a reprodução do som gravado ao som real.
O nome é inspirado no nome do programa "Crush em Hi-Fi" exibido no Brasil no início dos anos 60. "Crush" é o nome de um refrigerante de laranja, patrocinador do programa. "Hi-Fi" é o nome de uma tecnologia (abreviatura da expressão em inglês "High Fidelity", alta fidelidade) recém-criada na época, que tentava aproximar a reprodução do som gravado ao som real.
Pois bem, faz algum tempo e o dinheiro para tomar a cerveja santa de cada dia estava escasso... Dava só para umas cinco ou seis diárias, na Praia da Joaquina, no inverno, no Bar do Carécio ou do Maurílio II.
Eram os dois irmãos Andrino de Oliveira, o Já Já e o Caçula, mais alguns nativos da Lagoa que iam quase diariamente à Joaquina para ver a pesca da tainha... Bater papo e beber cerveja...E eu na roda com eles...
Um dia fomos beber e apareceu o Portátil... Figura ímpar, bar man, leve e pequeno na estatura... por isto mesmo é portátil... Grande cozinheiro, também...
Alguém lembrou do Hi Fi, bebida do tempo da Cuba Libre (Coca-Cola com Rum de Cuba)...
Hi Fi era a mistura de Crush com Vodka.
Hi Fi daqui, Hi Fi dali e dá-lhe Hi Fi...
Até que o Portátil falou em Fai Rai... Fai Hai era outro tipo de Hi Fi...
Era uma bebida inventada pelo próprio quando estava completamente duro, sem grana...
Fai Rai...
A curiosidade me fez perguntar: Mas, o que é o Fai Rai...
Ele disse: É cachaça, cana da pura, com Ki - suco... Aquele em pó nos envelopes coloridos...
E da-lhe Fai Rai...
Aí ele completou: Quando não tem Ki - suco, vai borra de café mesmo...
Borra de café na cachaça...
Perguntei, por que??? Ele respondeu que era para esconder a cachaça...
kkkkkkkkkkkkkkk...
E terminou, solenemente: Fai Rai é coisa de mané da Lagoa...
É "Faz Raio"... Fai Rai na nossa língua... Fai Rai na cabeça...
Este é o Portátil...
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
Discurso sobre a honestidade
Discurso
sobre a honestidade
Marcos Bayer
O drama humano não é a guerra que é sempre provocada
por um grupo, bando ou governo contra outro.
O drama humano não é a fome que é sempre a ganância
dos que têm sobras e não querem distribuí-las com os famintos.
O drama humano não é a prepotência dos poucos que se
protegem nos mandatos de poder usufruindo benefícios que são financiados por
todos.
O drama humano não é o medo dos que se abrigam nas
calhas ou telhados já conhecidos por temeridade à vida a céu aberto.
O drama humano não é o roubo dos que surrupiam a
riqueza coletiva pensando que assim se protegem dos rigores do ato de viver.
O drama humano não é a utilização da Natureza como
insumo inesgotável para atender às exigências de obsoletos e fabricados
mercados.
O drama humano não é a loucura do desempregado que
existe para manter níveis salariais comprimidos e estáveis.
O drama humano não é a atitude covarde dos que sabem
menos, parecem menos, sentem menos e que por isto mesmo precisam trapacear.
Nada disto sustenta o drama humano.
O drama humano é a desonestidade dos que sabem,
sentem, podem e pouco ou nada fazem para mudar o mundo em que vivemos.
É a desonestidade dos que sugam as possibilidades do
bem público para alimentar vontades privadas, menores e mesquinhas.
É a desonestidade da mentira pronunciada com se fora
verdade na arena política.
É a desonestidade de quem é amado e não pode amar.
Não sei se Rui Barbosa foi um sujeito honesto e nem
vou pesquisar sobre este assunto. Mas, quem escreveu: “De tanto ver triunfarem as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas
mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a
ter vergonha de ser honesto”, deve ter uma boa ideia do drama humano.
Quando ouço que a honestidade não é virtude, mas
obrigação; rio por dentro.
A honestidade é uma das maiores qualidades do ser
humano... Senão a maior delas.
https://youtu.be/2naehMUQpQY
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Um anjo rosa...
Um anjo
rosa...
Marcos Bayer
É uma quarta-feira... Passei o dia rindo e relembrando
coisas... Ao cair da tarde fui até o mar... O céu estava cinza, cinza chumbo...
Um dos 50 tons...
Resolvi ir até a Praia da Solidão, minha companheira
dos últimos tempos.
Lá encontrei o Betinho, meu amigo, filho da Dona
Joaquina...
O sonho do Betinho, nativo da Solidão, é ir para Nova
York...
Ele é anão e quer ir logo para uma cidade onde os
prédios são enormes...
Gigantes, arranha-céus...
Cada um sabe de si... Não é mesmo?
Tomamos uma (s) cerveja (s) enquanto o céu
escurecia... No horizonte uma luz rosa... Sinal de sol amanhã?
Lembrei de um texto escrito em Porto Belo:
From the
eyes
Olhem para o
horizonte
Lindo,
linear e limítrofe
Inerte
Neutro
Definitivo
Azul
O Betinho falava de seus planos... E eu ria muito...
Ele fuma cigarros Dunhill e toma uns remédios para
manter a saúde em dia... Não pode beber por recomendação médica...
Mas, ele me
diz: Marcos, se eu não bebo, a crise volta...
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Muitas risadas da
medicina...
Chegou o Vicente, vizinho dele na Solidão... Ele é
dono de uma empresa de vigilância eletrônica... Monitora prédios na cidade...
Um deles na Rua Luiz Delfino...
Fomos apresentados pelo Betinho. Quando falei meu
nome, ele, o Vicente disse que conhecia uma Rosângela, casada com o Ivan que
era Bayer.
Pensei. Deve ser filho da Sinova, casada com o
David...
Tijucas, então, entrou na conversa...
Pensei mais um pouco: Rosângela... Deve ser um anjo
rosa... Rosângela...
Rimos muito...
Escurecia, o céu apresentou uma estrela no
firmamento... Única...
Betinho trouxe o cinzeiro. Era uma panela de marmita,
bem velha. Pelas bordas internas estava escrito: Chepas, por favor...
Achei um luxo... O cinzeiro mais sofisticado que já
vi...
Ria muito... Eles também...
Tomei mais uns goles... Olhei para o céu... Ela estava
lá, permanecia a estrela... Solitária no firmamento...
Peguei a moto, voltei pra casa rindo a toa...
Esse Betinho... kkkkkkkkkkkkkkkk...
Acho que voltei a me apaixonar pela vida...
Descobri um anjo rosa...
Boa noite...
https://youtu.be/41K5Sqob2SQ
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Run rabbit... Run...
Run
rabbit... Run...
Marcos Bayer
O país parando quase parado... No Congresso Nacional a
bacia das almas em lavação, no Palácio do Planalto a Via Crucis, no outro lado
da Praça dos Três Poderes, a deusa Justitia cansada de segurar a balança e a
espada, permanece sentada em pedra esculpida.
Enchentes no sul, lamaçal mineiro escoando para o
Espírito Santo e desembocando no mar.
Caminhões em marcha lenta no mesmo ritmo da economia
nacional.
Parece que poucos brasileiros trabalham neste momento:
O Juiz Moro... E os Promotores de Curitiba com a Polícia Federal.
A Presidência da Câmara dos Deputados virou um “case”
de estudos. Como constituir um “trust” além mar com dinheiros de uma “trading”
que exportava para a África. Na Presidência do Senado Federal, hoje, a
inteligência é menos sofisticada. Implante de cabelos usando o avião da
República.
O Brasil só se atualizará ao mundo contemporâneo no
dia em que o processo correr... Run
rabbit run...
O processo não é uma pilha de papéis a espera de um
sorteio como se fora a premiação da Coca-Cola. Nem ela mais sorteia assim...
Enquanto o processo não andar na velocidade do mundo
atual, não teremos Justiça no Brasil. Apenas efeitos colaterais.
E o processo, toda a legislação processual, do civil
ao penal, do tributário ao administrativo, tem que funcionar com prazos
determinados para o Juiz.
Recebe a petição e determina na hora em que verifica a
inépcia: Trinta dias para contestar, mais trinta para a tréplica, mais trinta
para audiência de julgamento e mais trinta para recursos. Em mais trinta a
sentença de primeiro grau. São cento e cinqüenta dias no máximo. Assim também
nos tribunais superiores.
Democracia e Justiça só existem se caminharem juntas.
Não há outra hipótese...
Não pode a democracia correr enquanto a justiça
engatinha...
Não é assim que funciona onde o mundo é real.
Acompanhem o caso Marin nos Estados Unidos, como foi na Suiça...
É na base do Run rabbit... Run...
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Spiriti *
Spiriti *
Roma, 19 de Maio/2002 – d. C.
Dizem que o
mundo, agora, é globalizado. Para uns, sempre foi. Do ponto de vista anatômico,
a cabeça é redonda. Do ponto de vista geofísico, o globo também. Logo, nenhuma
novidade. Tudo é esférico: o crânio, o globo, a ponta da caneta moderna e o
nariz do avião.
No Kuwait, o
carinho e a fidalguia da amizade árabe. A distinção no tratamento político, a
confiança e o respeito institucional. De novo, Santa Catarina cobriu uma área
semi-abandonada...
Tijucas
apresentou seu suco de goiaba biodinâmico. Eles gostaram. Também viram móveis
de São Bento do Sul, arroz do Alto Vale do Itajaí, sapatos de São João Batista
e as possibilidades portuárias de São Francisco do Sul.
Gastam 70% da
energia gerada na produção do frio. Logo, boas possibilidades para vender
produtos de refrigeração...
No Egito, numa
belíssima ponta triangular, envolvida pelas águas azuis-cristalinas dos golfos
de Áqaba e do Suez, estava Sharm El Sheik.
Ao nascer do
sol, os pardais cantavam em sinfonia dissonante, comiam migalhas de pão no
restaurante e voam rasante sobre a piscina, arrodeada de bouganvilleas de cor
cereja cintilante.
Pura magia,
fluída energia.
Dali, de ônibus,
sob o sol, em direção ao Monastério de Saint Katherine, encravado no deserto do
Sinai, a 1.600 metros acima do nível daquele Mar Vermelho. Um lugar onde neva
uma vez por ano e a temperatura, mesmo no verão, é amena e serena.
Além de toda
dimensão espiritual, existem coisas raras: o tigre do Sinai, o pássaro baga e
pelo menos 21 plantas medicinais, próprias da região.
Fez-se, de volta
ao Oriente, a passagem do espírito.
Em Roma, chovia.
Era domingo e a canonização transcorria enquanto o Papa santificava...
Em Florianópolis
ela acordava, às vezes falava, muito escutava.
Naquele dia,
descansava...
No Timor Leste,
simultaneamente, a alma humana celebrava.
Naquele domingo,
em todo o globo, era dia para honrar os espíritos...
Outras Opiniões, páginas 40/41, Letras Brasileiras –
2002.
Foto da capa: criação e autoria de Marcos Bayer.
O conteúdo, também.
Publicado no Jornal O Estado em 24 de maio de 2002.
https://youtu.be/u14bimquEx0
terça-feira, 3 de novembro de 2015
Papo eletrônico...
Papo
eletrônico...
Pois é... Era madrugada, saindo dos Finados e voltando
aos vivos...
Abro o meu Facebook antes de dormir para a última
olhada panorâmica.
Encontro um “post” de um amigo, membro da Academia de
Letras, apreciador da boa música, relembrando Vinicius de Morais e Toquinho :
“Onde anda você” era a música.
Organizado e metódico ele usa os números romanos para
classificar sua série: COM VONTADE DE OUVIR...
Interessei-me pela música, cliquei e ouvi enquanto
percebia a numeração: IXL.
Imediatamente, porque também sou da Academia, não a
dele, mas de outra menos badalada, avisei pelo espaço reservado aos
comentários: “Olha, deve ser LIX se você quer marcar 59...”.
Ele imediatamente respondeu: Vou corrigir...
E, em seguida, escreveu: é 49 a numeração pertinente...
Aí, fui até tabela dos números romanos, via Google, e
encontrei XLIX equivalente para 49...
Ele riu (rsrsrs) e escreveu que eu não deixava passar
nenhuma em branco...
Então não me contive e como sou motociclista, escrevi:
Também pode ser XLX para a Honda 350 cc... Ou NX para a Honda 150 cc...
E caímos na gargalhada eletrônica:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
Aí, escrevi: Olha isto dá uma crônica. Um dos dois
escreve... Ele deixou para mim...
Pedi seu e-mail para mandar a cópia. Ele informou
“noljsenviking@...” ou algo assim...
Caí de novo na gargalhada e escrevi: Parece coisa de
sueco ou norueguês...
Ele escreveu que era a Noruega.
Aproveitei para dizer que tinha um filho morando por
lá. E que já haviam nascido dois netos: Lars e Erik, ambos Bayer.
Ele, não se conteve e replicou: Avisa quando nascer o
Thor...
Mais gargalhadas... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
Eu devolvi: Estamos colonizando a área...
Ele deu a tréplica: “Solidário com a Colônia Bayer”...
O que me restou foi dizer: Prosit und Danke...
(por
Marcos Bayer) em 03/Novembro/2015.
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Do começo... Ao fim.
Do começo...
Ao fim.
Marcos Bayer
No começo, antes da fala e da escrita, eram apenas
gritos, sussurros ou gemidos.
Atentos, surpresos, amedrontados ou confiantes,
agíamos pela curiosidade, por tentativas, instintos e alguma racionalidade. Em
grupos e pequenas comunidades sobrevivemos aos animais ferozes, às doenças, aos
medos, às dificuldades de toda ordem. A vida familiar e comunitária perpetuou a
espécie humana. Como fez com diferentes animais...
Na medida em que ocorria a expansão do cérebro, provavelmente
pelo cozimento das carnes e processamento da alimentação, modificavam-se os
corpos, as arcadas dentárias e o andar.
A curiosidade, a tentativa e o prazer foram os
condutores da evolução.
Flávio Gikovate diz que o prazer é a passagem de um
estado pior para outro melhor. Aprendeu isto com seus pacientes.
Matar a fome, saciar a sede, repousar e dormir,
acariciar e copular foram experiências que contribuíram para a erotização da
vida. O prazer. Eros e Tanatos.
Vida e morte.
Aprendemos que havia dias amenos e agradáveis e outros
frios e úmidos.
Descobrimos que algumas safras produziam belas
colheitas, outras nem tanto...
Matávamos e morríamos nas lutas contra animais e ou
nossos semelhantes de outras tribos.
Criamos entidades metafísicas ou psíquicas para nos
proteger dos horrores, com também para compartilhar dos favores da Terra.
Atribuímos ao sol, aos ventos, às águas e a
determinados animais funções extra-humanas. Divinas...
A divindade era a explicação para o desconhecido...
Assim, pela curiosidade, pela tentativa e pelo prazer
fomos construindo o caminho... O processo civilizatório.
O mundo externo é tão extenso e enigmático quanto o
mundo interno, criamos a concepção do Universo. Um só verso, infinito,
inatingível, indefinido.
Como não há limites para a imaginação, a criatividade
humana, especialmente pelo caminho das artes – o canto, a música, a
pintura, a escultura, o teatro, a dança, a literatura e o cinema – ajudaram a
construir o que a ciência demoraria um pouco mais para constatar.
O positivismo foi absurdo ao querer explicar e validar
o mundo pela ciência, pela lógica comprovada, pela racionalidade. No seio dele,
nasceu em 1857, com Allan Kardec, o Espiritismo. Uma tentativa de explicar o
espírito pela ciência.
O espírito – pneuma – é apenas o sopro da Criação.
Algo inexplicável porque intangível.
Mais sábio foi Einstein com sua Teoria da Relatividade
ao definir que a equação: E = m.c2 – poderia explicar nosso mundo.
A energia é a massa de um corpo lançado no espaço na
velocidade da luz ao quadrado. A velocidade da luz é a única constante no
Universo. Toda massa ao atingir tal velocidade, desintegra-se e vira pura
energia.
Assim como toda energia pode virar massa. A semente
(fonte de energia ou energia concentrada) introduzida na terra, com a ação da
luz solar e da água, transforma-se em árvore, algumas com frutas, ou em legumes
ou cereais, portanto em massa. Fiat Lux. Fiat Panis.
Foi assim com o trigo que ralado e misturado ao sal e
a água, fez-se pão.
A ciência (racionalidade) bebeu na fonte da arte
(imaginação) para revelar-se.
Assim, movidos pela curiosidade, fazendo da tentativa
um método e buscando o prazer, sempre, caminhamos sobre a Terra.
Fernando Pessoa, na Passagem das Horas,
mostra como somos...
“Trago dentro do
meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou
vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu
quero.”
E segue:
“Sentir tudo de
todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao
mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os
momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.”
E mais:
“Multipliquei-me,
para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus
diferente.”
É muito provável que assim como há uma transferência
genética nas sucessões familiares – a morfologia – possa haver também uma
transferência emocional ou psíquica nas descendências.
Somos partes físico-biológicas e psíquico-emocionais
de nossos ancestrais.
Tudo foi átomo que virou célula que virou tecido que
virou corpo que virou movimento. E nadou, rastejou, voou e ou andou...
Carl Sagan diz que com a formação do primeiro olho num
ser vivo, o Universo se viu pela primeira vez...
Os mega ou giga bytes contidos nos “chips” da
cibernética contemporânea são impulsos energéticos que não são matéria, nem
espírito... Mas, outro elemento que não sabemos definir, ainda.
Não por acaso está escrito: Tu és pó e ao pó
voltarás...
Somos energia com uma determinada forma e na
decomposição do corpo, seremos também energia de outra forma.
A tal da racionalidade humana é apenas a tentativa,
interminável, de compreender o mundo e o homem.
Boa sorte.
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